O Legado de Marshall Rosenberg – A Comunicação Não Violenta

A Comunicação Não Violenta (CNV) começou a ser utilizada nos anos 60, inicialmente em projetos federais do governo americano, com o intuito de integrar de forma pacífica escolas e instituições públicas. O psicólogo que estruturou a CNV, Marshall Rosenberg, vivenciou situações de violência em sua infância e por conta disso, começou a questionar nossa forma de nos comunicarmos. 

Em sua vida adulta, passou a investigar as relações humanas no intuito de buscar ferramentas que pudessem proporcionar maior engajamento e paz nas relações. Marshall Rosenberg e sua equipe, durante mais de 40 anos, criaram sistemas de apoio à vida nas relações intra e interpessoais. 

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A clareza da CNV sobre as relações humanas

A CNV vem sendo utilizada nos mais diversos setores da sociedade há mais de 50 anos. Cresce cada vez mais o número de pessoas que a utilizam com o desejo de intervir e agir em favor da paz, utilizando práticas que se demonstram eficazes. A observação da CNV sobre a crescente violência no mundo, é de que estamos agindo e nos relacionando de forma desalinhada de nossos verdadeiros valores.

Ao longo de seus trabalhos, Marshall percebeu como possuímos formas culturais predominantes ao nos comunicarmos, tanto com nós mesmos quanto com as outras pessoas. O que acaba nos levando a conflitos com familiares, colegas, amigos, ainda mais com pessoas de opiniões ou culturas diferentes. Desta maneira, acabamos nos inserindo em ciclos de emoções dolorosos e repetitivos.

A CNV, de forma notadamente prática, oferece alternativas claras aos diversos conflitos que estamos acostumados a permanecer no fundamento destrutivo da punição, raiva, culpa e vergonha.

O eixo central da Comunicação Não Violenta para relações harmoniosas

No cerne da Comunicação Não Violenta está a dinâmica que dá fundamento à cooperação. Todos nós, seres humanos, agimos para atender necessidades e valores básicos e universais. A partir desta constatação, abrimos a possibilidade de enxergarmos a necessidade, a mensagem por trás das palavras e atitudes nossas e das outras pessoas, independente de como são comunicadas.

 Desta maneira, ao recebermos rótulos, críticas, julgamentos dos outros, atos de violência (verbal, física ou social), passamos a recebê-las como expressões trágicas de necessidades não atendidas. Quando percebemos que temos necessidades universais (pertencimento, autonomia, abrigo, segurança, etc) em momentos diferentes, vamos nos dando conta que somos muito parecidos e que travamos confronto com nós mesmos e com os outros por não termos aprendido a nos comunicarmos de forma eficiente ao longo de nossas vidas.

Nossos pensamentos e palavras deveriam se direcionar na busca de identificar as necessidades que nosso interlocutor está tentando comunicar por trás de suas palavras e atitudes. Assim como exercitarmos a identificação de nossas próprias necessidades ao nos comunicarmos com alguém.

Quanto mais praticamos, mais clareza vamos tendo acerca do que se passa dentro de nós e a nosso redor, o que consequentemente contribui para relações mais harmoniosas e em um âmbito mais amplo, para uma sociedade mais harmônica.

A CNV em diversos espaços e setores da sociedade mundial

O psicólogo Rosenberg e sua equipe desenvolveram sistemas de apoio dentro dos mais diversos espaços e com os mais variados profissionais de áreas distintas: professores, administradores escolares, profissionais da saúde, sistemas jurídicos, detentos, policiais, guardas, gerentes de empresas, líderes religiosos (judeus, cristãos, muçulmanos e budistas), autoridades governamentais, entre outros, em mais de 50 países.

A CNV se mostra eficiente dentro das mais diversas instituições ao possibilitar, além de mediação pessoal, mudanças estruturais no modo de encarar e organizar as relações humanas nestes espaços, diminuindo a chance de confrontos ou dinâmicas de grupo opressivas.

Na educação, a Comunicação Não Violenta vem sendo implementada em diversos países, por meio de programas que visam o fortalecimento da convivência e noções de cidadania. Na Itália é reconhecida pelo Ministério da Educação, já em Israel é aplicada em creches e integra o programa do Ministério de Educação para prevenção de violência. 

Assim como é a base estrutural de um novo conceito de escola na Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Inglaterra, entre outros países. Na Sérvia, em parceria com a UNICEF, a CNV foi inserida em todas as escolas de segundo grau. 

No Brasil, encontramos círculos de resolução de conflitos em 10 escolas no bairro de Heliópolis, e 10 instituições escolares no município de Guarulhos utilizam a Comunicação Não Violenta como ferramenta de fortalecimento da cultura de paz e responsabilidade social, apoiando na resolução da dicotomia punição/impunidade dentro de um projeto da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

 No setor de segurança, é possível encontrar a CNV em penitenciárias do Reino Unido, da Suécia, Estados Unidos e Alemanha, como parte de programas para guardas e detentos e vem sendo cada vez mais utilizada no processo de reintegração de ex-presidiários. A Comunicação Não Violenta integra a formação de membros da Força Não Violenta de Paz, trata-se de um grupo internacional que apoia a transformação pacífica, estando presente em situações de conflito armado. Em vida, Marshall viajava para mediar conflitos e levar programas de paz a regiões em guerra, como Ruanda, Sérvia e Croácia.

Há alguns anos, no Brasil, o Ministério da Justiça, secretarias de educação e a Unesco elegeram a CNV para capacitação de agentes de mudança social em 6 estados e para projetos de Justiça Restaurativa. Além de integrar setores da educação, segurança e justiça, a CNV vem sendo inserida inserida no mundo empresarial, na área da saúde (entre médicos, psicólogos, enfermeiros, etc) e na gestão pública

O Centro para a Comunicação Não Violenta (CNVC), criado por Marshall Rosenberg em 1984, tem trilhado um caminho de disseminação eficaz deste conhecimento da comunicação compassiva nas mais diversas comunidades. Desta maneira, conseguimos vislumbrar cada vez mais cidadãos pelo mundo utilizando a Comunicação Não Violenta como norteadora em suas vidas familiares e comunitárias, fornecendo meios para que as diferenças sejam respeitadas.

Atuando desta forma, as pessoas estão contribuindo para uma mudança na relação entre as pessoas e ampliando a visão de mundo, indo do gerenciamento de conflito em direção ao desenvolvimento da consciência humana, a qual possui competência pessoal e social para desenvolver habilidades para o convívio compassivo.

Reinaldo Duarte da Silva
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